Muito se tem escrito, falado e divulgado sobre o aumento da expectativa de vida, mas e sobre a qualidade com que vivemos ou iremos viver esses anos a mais? Em Vivemos mais! Vivemos bem? Por uma vida plena (Papirus 7 Mares, 128 pp.,), os filósofos Mario Sergio Cortella e Terezinha Azerêdo Rios fazem uma profunda reflexão sobre o tema, com destaque, nessa nova edição da obra, para o capítulo “Idade preconceito”, que discute o etarismo, assunto que tem ganhado repercussão recentemente.
Ao longo do livro, os autores defendem que mais importante que o comprimento da vida é sua “largueza”. “Claro que queremos viver mais tempo, mas isso de nada vale se não pudermos aproveitar de verdade esse tempo, experimentá-lo em sua riqueza”, ressalta Terezinha. “Quero mais vida, mas não quero qualquer vida”, complementa Cortella.
Para o filósofo, “a ideia de vida longa implica viver mais e viver bem. Mas, no meu entender, viver bem não é só chegar a uma idade mais avançada com qualidade material de vida. É também adquirir a capacidade de olhar a trajetória. Porque a vida não é só o agora, é o percurso. Ela é a soma de todos os momentos numa extensão de tempo”.
Uma das coisas que dificultam a qualidade de vida na velhice é o preconceito em relação à pessoa de mais idade. Sobre isso, os autores lembram que o etarismo não é uma questão recente, e acontece mais nas sociedades ocidentais. “Esse etarismo resulta, num primeiro momento, de um produtivismo no qual se entende que a pessoa com mais idade, sendo menos produtiva, é muito mais um ônus do que um bônus”, aponta Cortella. E complementa, “além do produtivismo, há a ideia do capacitismo, isto é, entende-se que ela é menos capaz, portanto, possui uma série de limitações que alguém com menos idade não tem”.
Ao encontro disso, Terezinha ressalta que é o momento de refletirmos sobre o contexto no qual se dá essa discriminação, pois entende que existe uma dificuldade em nossa sociedade de aceitar as diferenças. “Temos que pensar em como nós nos configuramos para chamar o outro de diferente, e que marcas tem essa diferença. Retomando a ideia de velhice, de idade mais avançada, não é só questão de tempo de vida; é fraqueza, fragilidade, improdutividade. São todos elementos negativos – e serão mesmo, ou terão sido criados num imaginário?”, finaliza.
Os autores
Mario Sergio Cortella é filósofo, escritor e palestrante, com mestrado e doutorado em Educação pela PUC-SP, onde atuou como professor titular por 35 anos (1977-2012). Foi secretário municipal de Educação de São Paulo (1991-1992), tendo antes sido assessor especial e chefe de gabinete do professor Paulo Freire. É autor de diversos livros nas áreas de educação, filosofia, teologia e motivação e carreira, como Nos labirintos da moral, com Yves de la Taille, Ética e vergona na cara!, com Clóvis de Barros Filho, Nem anjos nem demônios: A humana escolha entre virtudes e vícios, com Monja Coen, e Viver, a que se destina?, com Leandro Karnal, todos publicados pela Papirus 7 Mares.
Terezinha Azerêdo Rios é graduada em Filosofia pela UFMG. Cursou o mestrado em Filosofia da Educação na PUC-SP, onde fez parte, por mais de 30 anos, da equipe de professores do Departamento de Teologia e Ciências da Religião. Doutorou-se em Educação pela USP, sendo pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Formação de Educador (Gepefe), da Faculdade de Educação. Tem atuado como assessora e consultora em projetos de formação de professores e educação continuada de profissionais de diversas áreas.