A pesquisa contou com a colaboração de 114 cientistas de 52 centros de pesquisa e agências da Organização das Nações Unidas (ONU) do mundo todo. Os especialistas internacionais alertam que sem ações para conter as alterações climáticas, a “saúde da humanidade corre grave risco”.
O estudo faz o monitoramento das mudanças climáticas na saúde, e mostra que o calor é apenas uma das formas pelas quais a utilização crescente de combustíveis fósseis ameaça a saúde humana. Entre os pontos abordados, estão:
• A secas, que se tornarão mais comuns, e podem deixar milhões de pessoas em risco de morrer de fome;
• Mosquitos que levarão doenças infecciosas;
• Sobrecarga nos sistemas de saúde, que terão dificuldades de lidar com o aumento de pacientes.
O relatório também aponta que as emissões de carbono, referentes à energia atingiram novas máximas em 2022, e destacou que há enormes subsídios governamentais e investimentos de bancos privados em combustíveis fósseis, que consequentemente, aquecem todo o planeta. Isso ocorre mesmo devido aos apelos crescentes de ações globais para minimizar a emissão desses gases.
Com o aumento das temperaturas nos últimos anos, o número de pessoas com mais de 65 anos que morreram devido ao calor extremo aumentou em 85% entre os anos de 1991 a 2000 e 2013 a 2022. Só no ano passado, a população de todo o mundo foi exposta a uma média de 86 dias de temperaturas potencialmente fatais, conforme o estudo.
Crises
O cenário avaliado pelos pesquisadores coloca em cena o caso do mundo aquecer em dois graus Celsius até o fim do século –caminhamos certo para 2,7ºC. Na hipótese disso ocorrer, as mortes anuais por calor extremo podem aumentar até 370% até 2050, o que representa 4,7 vezes mais mortes do que agora.
Além disso, há também que se levar em conta a insegurança alimentar grave e moderada, que poderão acometer 520 milhões de pessoas, conforme as projeções. O cenário também avalia que as transmissões da dengue aumentariam em 36%
“As pessoas que vivem nos países mais pobres, que muitas vezes são menos responsáveis pelas emissões de gases de efeito de estufa, estão suportando o peso dos impactos na saúde, mas são menos capazes de aceder ao financiamento e à capacidade técnica para se adaptarem às tempestades mortais, à subida dos mares e às secas que destroem as colheitas, todos agravados pelo aquecimento global”, afirmou Georgiana Gordon-Strachan, uma das autoras do Lancet Countdown.
Para o secretário-geral da Onu, António Guterres, a humanidade está diante de um “futuro intolerável”. “Já estamos vendo uma catástrofe humana se desenrolando, com a saúde e os meios de subsistência de milhares de milhões de pessoas em todo o mundo ameaçados por um calor recorde, secas que provocam perdas de colheitas, níveis crescentes de fome, surtos crescentes de doenças infecciosas e tempestades e inundações mortais”, declarou.