O líder do movimento islamista palestino exilado no Catar, Ismail Haniyeh, desembarcou no Egito para uma reunião com Abbas Kamel, diretor do serviço de inteligência deste país. Haniyeh chegou ao Cairo “para negociações com autoridades egípcias sobre o desenvolvimento da agressão sionista na Faixa de Gaza e outros temas”, afirmou a organização islamista palestina em um comunicado.
As negociações se concentrarão em “interromper a agressão e a guerra, preparar um acordo sobre a libertação de prisioneiros (palestinos) e acabar com o cerco imposto à Faixa de Gaza”, afirmou na terça-feira uma fonte do Hamas à AFP. O presidente de Israel, Isaac Herzog, declarou na terça-feira, 19, que o país está “preparado para outra pausa humanitária e ajuda humanitária adicional para facilitar a libertação de reféns”.
Israel prometeu “aniquilar” o Hamas, que está no poder em Gaza desde 2007, depois que o movimento palestino atacou o país em 7 de outubro, uma ofensiva que matou quase 1.140 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado nos dados oficiais mais recentes divulgados pelas autoridades israelenses.
Quase 250 pessoas foram tomadas como reféns no ataque e 129 delas continuam em Gaza, segundo o governo de Israel. No território palestino, 19.667 pessoas, a maioria mulheres, crianças e adolescentes, morreram nos bombardeios israelenses, segundo o Ministério da Saúde palestino. Segundo o portal americano de notícias Axios, David Barnea, diretor do serviço de inteligência israelense Mossad, se reuniu na Europa com o primeiro-ministro do Catar, Mohamed bin Abdulrahman Al Thani, e com o diretor da CIA, Bill Burns, para discutir um possível acordo de libertação de reféns.
Axios também informou que Israel propôs uma pausa nos combates em Gaza de pelo menos uma semana em troca de mais de 30 reféns sob poder do Hamas. O Catar, com apoio do Egito e dos Estados Unidos, ajudou a negociar a trégua de uma semana em novembro.
As negociações também prosseguirão nesta quarta-feira na ONU (Organização das Nações Unidas). Desde segunda-feira, 18, o Conselho de Segurança não consegue votar uma resolução para acelerar o envio de ajuda humanitária à Faixa de Gaza. A votação foi adiada duas vezes e os membros do Conselho buscam a fórmula adequada para evitar o veto dos Estados Unidos, principal aliado de Israel.
O texto, que inicialmente pedia um “cessar urgente e duradouro das hostilidades” em Gaza, agora cita a “suspensão” dos combates. Enquanto as negociações continuam, Israel mantém a ofensiva contra Gaza. Fontes do Hamas afirmaram nesta quarta-feira que pelo menos 11 pessoas morreram em bombardeios noturnos.
Sob cerco total de Israel desde 9 de outubro, o território palestino enfrenta uma profunda crise humanitária: a maioria dos hospitais está fora de serviço e 85% da sua população, ou seja, 1,9 milhão de pessoas, fugiu da destruição no norte do enclave para buscar refúgio no sul. Um relatório do Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU publicado nesta quarta-feira destaca que metade da população sofre de fome extrema ou grave.
“Sem água potável, os alimentos e o saneamento que apenas um cessar-fogo humanitário pode proporcionar, as mortes de crianças por doenças podem superar o número de mortos nos bombardeios”, alertou um porta-voz do Unicef na terça-feira, 19. Com suas casas em ruínas, muitos habitantes de Gaza procuraram refúgio em abrigos superlotados, onde lutam para encontrar comida, água e atendimento médico.
“Não sabemos para onde ir. Hoje não há água, não há comida, não há nada”, disse Nizar Chahine, um jovem de 15 anos deslocado pelos combates em Rafah, cidade do sul de Gaza que recebeu centenas de milhares de pessoas.