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O Paraná e seu jeito de refletir

Foto: inonimado.

No dedilhado de “Solitary Man”, Johnny Cash me faz lembrar da terraplanagem e da envolvente mata nativa paranaense. Sinceramente, queria saber o porquê. Mas a imagem responde todas as perguntas.

Se pararmos para pensar, quantos desafios o Paraná presenciou aos pés das araucárias e ao redor dos pratos de pinhão dos posseiros e paraguaios durante os conflitos que culminaram em tantas conquistas? Talvez valorizaríamos mais essas terras rojas.

Em uma região rica em erva-mate e madeira, este Estado e Santa Catarina disputaram centímetro por centímetro, liderados por um monge. Acredita? Pois é, José Maria.

Que valor teria um Estado como este, sem perceber a ideia grandiosa dos sangues derramados para conquistar territórios? Conquistar é se debruçar sobre o pertencimento a algo, a alguma coisa.

Você sabe que precisa derramar sangue, certo? Em outras palavras, decidir sobre sua vida. Seja a cor da pintura da sala ou do quarto, cujo posicionamento é necessário.

Aprendi que, se você não decidir, alguém decidirá por você.

Seja através da solidão ou do compartilhamento de pensamentos com Johnny, em “Solitary Man”. Bem redundante.

A Revolta dos Posseiros foi um exemplo de derramamento de sangue. Colonos e posseiros, sob a árvore ícone do Estado, comendo pinhão, tomando mate e levando os gados para o matadouro. Nesse caso, há um ar de pertencimento, isso aconteceu no Sudoeste, na segunda casa de quem vos escreve.

Só para finalizar a sardinha, o ápice da revolta aconteceu quando cerca de seis mil posseiros tomaram a cidade de Francisco Beltrão.

Qual o último território que você conquistou? Qual foi o último sangue derramado? Ou a última vez que afiou a foice e carregou a garrucha? O mesmo que sentir o sangue no céu da boca.

Nem falarei da Revolta do Tenentismo, em Catanduvas.

Ou do Vintém, quando o governo do Paraná instituiu um imposto sobre as rendas, em 1883, comerciantes de Curitiba se revoltaram, entrando em conflito com militares.

Vou repetir a reflexão: qual foi sua última luta? Aquela que você derramou sangue?

Tivemos também o Cerco da Lapa, em 1894, durante a Revolução Federalista, conflito deflagrado no Sul do Brasil logo após a Proclamação da República. Durante 26 dias, 639 soldados das tropas republicanas resistiram bravamente às forças federalistas, formadas por cerca de três mil combatentes.

A cidade da Lapa foi palco de uma sangrenta batalha que deu ao chefe da República, Marechal Floriano Peixoto, tempo suficiente para reunir forças e deter as tropas federalistas.

Qual foi a sua última sangrenta batalha?

Imagino os cavalos, gados, animais racionais, batalhando com propósitos e objetivos definidos, outros nem tanto – mas minimamente objetivando a morte. Confesso que fiquei com muita pena dos animais mortos em batalhas. Mas alguém precisava, fossem os cavalos ou os racionais, não é?

Um Estado novo? Um país novo? E você? Quanto sangue derramou?

Preciso puxar a sardinha outra vez. Quando penso em cavalos, penso num gesto, numa perfeita sintonia de um animal que foi tão sacrificado e hoje renegado ao seu papel de batalha, restando ser um instrumento de lazer e prazer para os racionais. Que depressão. Apesar de amar os cavalos – isso não significa criar uma exceção.

Uma elegância. Uma postura. Uma decisão.

Qual foi a última coisa que decidiu?

Eu serei o que sou, um homem solitário. E você? Quanto sangue derramou?

Há muitas coisas a se pensar, mas poucas a decidir. Qual foi a sua última decisão? Não responda.

Você decidiu ler isso. Então está pronta para decidir. Derramar sangue é necessário, é importante, é preciso, é determinante.

Decida sobre a guerra ou o tratado, decida sobre o arrependimento ou insista. Decida sobre morar aqui ou viajar para ali.

O Paraná foi só um pretexto. Hoje é um estado em um Estado.

A araucária era apenas mais uma árvore, hoje é a árvore de uma bandeira.

O mate? Do Sul.

Pinhão? Tradição!

E você? Antes de responder, só uma coisa: não basta ser apenas paranaense.

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