Na última quinta-feira (27), os Estados Unidos (e o mundo) puderam presenciar os dois candidatos à presidência, que concorrerão no pleito deste ano, em um debate que trouxe muito mais que propostas e planos de governo.
O debate, além de ter sido realizado de forma precoce e com regras bastante estritas, como a ausência de público, chocou os telespectadores ao expor a frágil condição mental e física do atual presidente Biden. O democrata, candidato à reeleição, por diversas vezes se perdeu em seu discurso, discorrendo, de forma bastante desconexa, sobre temas importantes que permearam a sua gestão, como as consequências do COVID e a guerra entre Israel e Palestina.
Para a surpresa do público em geral, o candidato republicano Trump não usou a situação a seu favor, mesmo tendo tido inúmeras oportunidades de fazê-lo. Era de se esperar, pelo histórico de impulsividade e ausência de papas na língua do ex-presidente, que este aproveitaria da evidente confusão mental do adversário para se sobressair no debate. Contudo, Trump se manteve frugal e reservado. Tenha sido esta postura premeditada, como uma orientação de sua equipe de campanha, ou um ato próprio de solidariedade, o fato é que essa conduta beneficiou o republicano.
Esta situação é completamente nova, tanto para a mídia quanto para o universo político dos Estados Unidos. Não há registros, na história americana, de outro candidato à presidência que tenha tido a sua sanidade e capacidade de assumir o cargo questionadas.
A questão da idade em que um candidato à presidência poderia assumir o mandato já havia sido levantada em 1984, com a reeleição de Ronald Reagan, que contava na época com 73 anos. Contudo, não há comparações com o atual cenário político que vive o país mais rico e poderoso do mundo. Os americanos veem, ocupando o Salão Oval, um senhor de não apenas idade avançada, beirando os 83 anos, mas também faculdades mentais duvidosas que, durante o seu mandato, já mostravam seus sinais e, no recente debate, se tornaram ainda mais evidentes.
O debate gerou, literalmente, pânico no Partido Democrata. Diante do fato de o atual presidente, e candidato à reeleição, mostrar-se totalmente incapacitado de concorrer contra o forte adversário que se mostra Trump, até mesmo pelas precoces pesquisas, o partido democrata se vê numa encruzilhada.
Haveriam, os democratas, de trocar seu candidato a presidência? Ou, até mesmo, já retirar o atual presidente Biden de suas funções, diante de seu estado mental? Mesmo que o partido, atualmente, tenha se mostrado firme no apoio a Biden, esta condição pode mudar a qualquer momento.
A mídia americana efervesceu com o debate e já passou as comuns e habituais especulações. Foi levantado por diversas vezes o nome do atual governador democrata da Califórnia, Gavin Newsom, como um possível substituto na disputa eleitoral deste ano. Mesmo este negando, é fato que seu nome se mostra bastante forte, principalmente em comparação à outra opção, que seria a atual vice-presidente Kamala Harris. A Vice, até mesmo para os democratas, é excessivamente radical, e não se enquadraria como uma boa opositora a Trump.
Nesta segunda-feira (2), contudo, passado o alvoroço pós debate, alguns políticos já começaram a mudar seus discursos, partindo, inclusive, do próprio partido de Biden. Lloyd Dogget, deputado democrata pelo Texas, pronunciou-se pela desistência do atual presidente da disputa pela reeleição.
Acompanhemos, atentos, as cenas dos próximos capítulos. As eleições americanas, ainda bastante indefinidas, prometem ser tema de muita especulação, fatos inéditos e reviravoltas, e resultarão num cenário que irá impactar não só os EUA, como todo o mundo, nos próximos anos.