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Perfume e mulher: aroma ‘tatuado’ na memória

Imagem gerada por IA

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Perfumes definem a personalidade de uma mulher. Não é uma afirmação. É uma convicção. Um entendimento pessoal. Há que se refinar essa percepção. Então, explico: aromas, creio, estão associados a uma decisão. A um comportamento. A opção por esse ou aquele perfume leva em consideração fatores diversos. E não está entre eles o conceito da ‘química da pele’, que associa aromas a tipos de derme (as secas, exigiriam aromas mais intensos, pois teriam dificuldade em retê-los).

Mas retomando o início dessa conversa, perfumes dão a dimensão de como uma mulher se apresenta. Como ela quer ser vista e lembrada. Aromas provocam e mulheres inteligentes desdobrem logo isso. Provocam e marcam. ‘Tatuam’ na memória um risco de lembrança, de saudade. Nada mais duradouro que a memória olfativa. Um cheiro específico, que incomoda e provoca, não se esquece. Sou prova disso e alicercei algumas convicções sobre perfume no episódio que narro a seguir.De 15 para 16 anos. Saindo da adolescência. Final dos anos de 1970. Em São Paulo com amigo e seu pai.

Um parêntese importante: Wantuil, amizade que começava a florescer, morreu jovem. Aos 18 anos. Saindo da casa da namorada, de moto, um infeliz cruzou a preferencial. Largava o sorriso por qualquer coisa. Era de uma felicidade incomum. Essa lembrança me acompanha agora, enquanto faço esse intervalo para honrar sua memória. Deve estar sorrindo em algum lugar, encantando outros com sua alegria.A viagem era para comprar máquina de escrever. Família tinha uma escola de datilografia. Já ensinaram isso um dia.

Num dos intervalos das compras, subimos num edifício alto. Copan,  projetado por Oscar Niemeyer e inaugurado em 1966, depois de mais de uma década de construção. No topo há um mirante com uma vista surpreendente da capital paulista. À época, havia um restaurante francês naquela altura. Nunca descobri se era o Maxim’s, centenária grife francesa criada no século 19 e que, sob a tutela de Pierre Cardin, se expandiria pelo mundo até não resistir à contemporaneidade da gastronomia, que atropelou os clássicos  (um dia desses falo de Ferran Adrià e sua cozinha molecular).

No elevador que dava acesso ao topo, um casal de seus 35 anos, vestidos de forma muito elegante para o almoço. Ele de terno, ela com uma espécie de smoking feminino, conceito lançado no final dos anos de 1960 por Ives Saint Laurent e que se tornou uma peça clássica. Morena, alta, soberba em sua elegância contida numa silhueta de curvas generosas. A media de canto do olho, absolutamente encantado com sua beleza.

Captei todas essas impressões no curto trajeto do térreo ao topo. Mas algo invisível aos olhos também chamou minha atenção. O perfume que ela exalava era inebriante. Persistia e provocava. Seu aroma nunca sairia da minha memória. Demoraria quase uma década para então descobrir que aquela morena usava Chanel nº 5, um clássico da perfumaria mundial e, como todos os clássicos, um tanto fora de moda.

 A experiência, no entanto, levou-me a conclusão, refinada e sedimentada ao longo dos anos, que perfume é um elemento fundamental que distingue uma mulher e sua infinidade de virtudes. Não importa outras referências como beleza e elegância. Perfumada, uma mulher se revela exatamente como ela é: mulher. Na maioria das vezes, inesquecíveis quando nossa memória olfativa associa aroma com tudo que uma mulher oferece. Há uma magia inexplicável nisso tudo!

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