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Com pesquisa e iniciativas pioneiras, Paraná pode se tornar a terra do lúpulo no futuro

Maior produtor de cevada do Brasil, o Paraná pode se tornar um bom produtor também de lúpulo, essência fundamental para...

Foto: Roberto Dziura Jr/AEN
Maior produtor de cevada do Brasil, o Paraná pode se tornar um bom produtor também de lúpulo, essência fundamental para o aroma e o amargor característicos da cerveja. Alguns experimentos já contam com a participação da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e outros são fruto da iniciativa de produtores que se engajaram na causa, ampliando a oferta de produtos que saem do campo no Estado.

Em Palmital, zona rural de Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, 400 plantas trepadeiras geometricamente bem ajustadas nas laterais apontam ao céu estendendo-se por cinco metros de altura, amparadas em uma estrutura de postes e arames reforçados. Essa é a forma mais adequada para que o lúpulo cresça e aproveite o máximo de sol, que contribuirá para melhor qualidade do produto.

O final de fevereiro e início de março é período da colheita, e o produtor Josimar Cubis reúne familiares e vizinhos para a tarefa. Espera repetir a média de 40 a 50 quilos do produto já seco e desidratado, ainda que o potencial instalado possa render em torno de 80 a 100 quilos. Ele atende cervejarias artesanais da RMC, Londrina e Maringá, além de municípios de São Paulo e Minas Gerais.

Cubis nasceu na propriedade rural que os pais cultivam há 57 anos, principalmente com milho, feijão e batata. Mas desde os 18 anos não passa o dia todo nela. Buscou emprego fora e hoje ainda mantém expediente em uma indústria automobilística. “Mas eu sempre quis plantar alguma coisa na chácara, algo que não fosse comum, porque para o pequeno produtor é difícil trabalhar com as culturas tradicionais”, afirma.

Em 2015, enquanto navegava na internet em busca do algo diferente, bateu os olhos no lúpulo e conheceu a Mantiqueira, reconhecida em 2021 como variedade genuinamente brasileira, resultado de estudos desenvolvidos pelo agrônomo Rodrigo Veraldi em São Bento do Sapucaí (SP), na região da Serra da Mantiqueira, com sementes que se adaptaram ao clima e solo locais. “Passei a conversar com ele”, diz. Em 2020 trouxe as primeiras 260 mudas, que se multiplicaram para 400 em aproximadamente 1,3 mil metros quadrados de terreno.

Os desafios estão sendo vencidos na prática. O primeiro foi o distanciamento entre as linhas das plantas. Em alguns países produtores é de 1,20 metro devido à boa insolação. “Eu plantei com 4 metros para que uma fileira não faça sombra para a outra e numa linha que permita o maior tempo de sol possível diretamente nas plantas”, afirma. A irrigação por gotejamento não foi problema, pois um poço artesiano atende às necessidades da propriedade.

Novos obstáculos foram enfrentados no ano passado, com ataque de fungos, em razão do excesso de chuvas, quando perdeu 70% da produção. E agora com um tatu, que cisma cavoucar minhocas onde caem as gotas de irrigação e acaba arrancando as plantas, além de formigas, que destroem um pé em uma noite. Cubis acentua que ainda está aprendendo o trato com a planta. “Não tem nada para o Brasil, tem de estudar, pesquisar, ligar para um e para outro, e ler matéria em inglês”, salienta.

Nos primeiros anos ele mantinha a área absolutamente limpa, até que aprendeu que o lúpulo precisa de umidade e que manter o capim e a palhada ajuda na tarefa. A intenção é ter duas mil plantas. “Mas não vou aumentar até que eu aprenda a trabalhar bem com o lúpulo, é melhor errar pequeno”, afirma. “Eu encontrei no lúpulo o que queria desde criança, toda tarde e em minhas horas de folga estou aqui”.

Entre os meses de abril e setembro o produtor mantém a planta em dormência. A partir daí ela rebrota com crescimento de até 30 centímetros por dia. Nesse momento há necessidade de conduzir o desenvolvimento para que a trepadeira não se desgarre dos fios condutores. Em janeiro floresce e a colheita começa em fins de fevereiro, quando os galhos são cortados baixo e levados para a retirada manual das flores. Debulhadas seguem para a estufa, onde são secadas durante oito horas, trituradas e embaladas a vácuo.



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