Os tiros foram disparados a queima roupa. Balas de 38 num corpo magro e pequeno. Dois na cabeça. Outro no coração. Morte instantânea. O assassino fugiu. Nunca foi encontrado. Nem a polícia se esforçou muito. Fumaça era meliante conhecido. Passagens por furto e tráfico. Não era violento. Nunca usou arma. Mas tinha pernas mortais como bom capoeirista. Briga com ele tinha desfecho certo: derrota do desafiante. Era comum esse tipo de duelo. Com Baiano e Lebrão virou episódio histórico. Bateu nos dois de uma vez. ]
Dupla era famosa por arrumar confusão no bairro. Jardim Alvorada, início da década de 1970. Meses depois de sua morte, ele reapareceu nas ruas do bairro. Pelo menos era o que relatava moradores. Sempre próximo do local de sua morte. Quem imagina tê-lo visto relata: olhos esbugalhados, cabeça faltando um pedaço e boca escorrendo sangue. Aparecia com a mesma roupa: tênis, calção azul e camiseta branca. Mãe fez novena. Cravou cruz no local. Queria exorcizar o fantasma. Ou aquietá-lo. Não adiantou o esforço.
Alma penada, ficou a transitar por ali por bom tempo. Relatos eram cada vez mais frequentes de suas aparições. Todos convergiam para a mesma imagem sofrida e assustadora. Até parecia verdade. Não se sabe como esta história termina. Melhor: se havia alguma ligação entre a briga com Baiano e Lebrão, dupla também envolvida em muitos pequenos crimes. Lideravam ‘racinhas’, como as gangues de hoje eram conhecidas naquela época.
Na Tuiuti tinha o Doutor e na Operária o Saruê. Todos suspeitavam de que um dos dois tenha atirado em Fumaça. Mas com a morte de Lebrão, as aparições não foram mais relatadas. Coincidência? Não se sabe. O que se sabe que ele morreu com três tiros. De 38. Dois na cabeça. Outro no coração. Mas nenhum relato que tenha reaparecido.