Em Maringá, enquanto muitos cidadãos estão às voltas com panetones, festas de família e planos para a virada do ano, nossos ilustres vereadores parecem ter outro tipo de urgência. Não, não estamos falando de questões de saúde, segurança ou educação. O foco da atenção deles, num verdadeiro ato de “desprendimento público”, é a votação para reajustar os próprios salários e os do prefeito, vice e secretários municipais. Afinal, quem precisa de Papai Noel quando se pode ser o próprio “bom velhinho”?
Na semana passada, a Câmara aprovou, sem muita cerimônia, um projeto de lei para aumentar os subsídios dessas autoridades, com a promessa de que o novo gordo contracheque só entraria em vigor em 2025 – porque, claro, o futuro deve ser promissor para quem legisla em causa própria. O projeto seguiu para o prefeito Ulisses Maia, que, talvez inspirado pelo espírito natalino, resolveu vestir a roupa de “grinch” – a minha roupa, e vetar o aumento. Segundo ele, o projeto é inconstitucional, ilegal e – a cereja do bolo – contrário ao interesse público. Um veto, diga-se, recheado de razões legítimas, mas que também pareceu um “presente de grego” para a Câmara.
Agora, os vereadores convocaram uma sessão extraordinária para o dia 30 de dezembro. Sim, trinta de dezembro! Porque nada grita “compromisso com a população” como reunir-se no penúltimo dia do ano, quando boa parte da cidade está distraída entre comprar espumantes e arrumar malas para a praia.
O cronograma da sessão extraordinária é tão estratégico que quase se confunde com um golpe de marketing político. Afinal, enquanto muitos se preocupam em “descer para BC” – referência à música chiclete que se tornou hit nacional –, os vereadores de Maringá decidiram “subir” seus próprios salários. O timing não poderia ser melhor para quem quer passar despercebido.
Mas a ironia não para por aí. A Câmara Municipal de Maringá já demonstrou ser uma casa onde o pragmatismo impera. Aprovou o aumento como quem troca receitas de ceia de Natal, mas agora parece relutar em acatar o veto do prefeito. E é claro que tudo isso está acontecendo com a devida pompa de urgência, em uma data quase mágica para os bastidores da política: um dia útil disfarçado de feriado.
Enquanto isso, a população, que deveria estar mais atenta, parece envolvida pelo clima de fim de ano, deixando que decisões importantes passem sem o escrutínio necessário. O impacto financeiro desse aumento pode não ser gigantesco no orçamento global da cidade, mas o simbolismo é profundo: em tempos de crise econômica e desigualdade crescente, os representantes do povo priorizam os próprios bolsos.
O prefeito Ulisses Maia, ao vetar o projeto, mostrou sensibilidade ao clima popular, enquanto os vereadores jogam com a conveniência. Muitos sabem que em 2025 podem não estar mais na Câmara para aproveitar o aumento – mas quem permanecer, certamente agradecerá. Além disso, há quem já esteja de olho em cargos de secretário, garantindo que, de um jeito ou de outro, o reajuste faça parte de seu futuro.
A convocação dessa votação no dia 30 de dezembro não é só inoportuna; é um retrato escancarado da desconexão de boa parte dos políticos com a realidade da população. Escolher essa data estratégica para um tema tão impopular evidencia o cálculo frio: se não aprovarem o aumento ainda nesta legislatura, todo o esforço feito até agora será perdido. Enquanto isso, o interesse público, mais uma vez, fica em segundo plano. Talvez seja hora de a população não “descer para BC”, mas sim erguer a voz contra esse tipo de manobra.
Os fogos de artifício do Ano-Novo deveriam marcar conquistas coletivas, não encobrir manobras políticas feitas na surdina, aproveitando o esquecimento temporário da cidadania. Que 2025 traga não apenas aumentos salariais, mas também mais responsabilidade e menos estratégias dignas de um roteiro de tragicomédia. Infelizmente, esperar isso é como acreditar em Papai Noel: uma fantasia infantil diante da dura realidade política.
Aproveite o recesso, Maringá. Para alguns, 2025 já começou “muito bem”. Mas a cidade merece bem mais do que esse triste espetáculo.