Chegamos ao terceiro episódio da segunda temporada de The Last of Us, série que adapta o jogo da Naughty Dog para a TV. Após os acontecimentos eletrizantes do episódio anterior, tivemos agora um capítulo que dividiu opiniões. Focado em mostrar o sentimento de perda e a reconstrução de Jackson, o episódio acabou sendo visto de forma negativa por sair do contexto abordado nos eventos do jogo The Last of Us Part II e por enfraquecer personagens importantes.
Tanto o episódio quanto a série abordam luto, dor, perda, reencontros e discussões. No entanto, algo que vimos no jogo é diferente da abordagem adotada pela série da HBO, que optou por seguir um caminho distinto.
Joel morreu… e agora?
O episódio começa com Ellie, Dina e Jesse retornando a Jackson com o corpo de Joel. Vemos Tommy se deparar, desolado, com a morte do irmão. Ellie, por sua vez, é levada ao hospital, onde enfrenta momentos de estresse pós-traumático, revivendo a cena da morte de Joel.

A partir daí, tudo começa a desandar de forma desastrosa. Três meses se passam desde os eventos do segundo episódio, enquanto Jackson é lentamente reconstruída por seus moradores. Ellie, ainda hospitalizada, está prestes a receber alta. Antes, porém, precisa enfrentar uma última conversa com Gail, a psicóloga que também havia atendido Joel no primeiro capítulo. Em um diálogo superficial, Gail tenta entender como Joel a “salvou”, algo que ele mesmo mencionara antes. Ellie, no entanto, se esquiva, finge força emocional e faz de tudo para encerrar rapidamente a sessão — e consegue.
Ou melhor, apenas tenta. Na realidade, Ellie está consumida pela sede de vingança e rapidamente procura Tommy para arquitetar um plano para matar Abby. O problema é que o irmão de Joel não se mostra disposto a embarcar nessa jornada. Diferentemente do que vemos no jogo, ele não demonstra raiva nem qualquer traço de fúria — apenas uma passividade que destoa completamente do personagem que conhecemos e amamos. Para piorar, Tommy só aceita considerar a missão se a vila de Jackson aprová-la.
Conselho constrangedor
Neste momento, somos apresentados a uma das cenas mais constrangedoras desta adaptação. Toda a população do condado se reúne para decidir se a empreitada de Ellie deve ou não ser aprovada. Vemos personagens coadjuvantes se posicionarem contra o derramamento de sangue e ponderarem sobre as consequências. Curiosamente, o lado positivo ficou com Seth — lembra dele? O velho que arrumou confusão por conta do beijo de Ellie e Dina — que defende a necessidade de Jackson enviar uma mensagem, para não parecer fraca diante dos inimigos.
Ellie, então, lê um discurso escrito em um pedaço de papel, tentando convencer o “júri” de que seriam necessárias 16 pessoas para invadir Seattle e enfrentar a WLF (Washington Liberation Front). O discurso é claramente mentiroso, apenas uma tentativa de persuadir emocionalmente os presentes de que a vingança é o melhor caminho. No entanto, o plano acaba sendo rejeitado.

Esse é, inclusive, um dos principais pontos abordados no capítulo intitulado The Path (“O Caminho”): mostrar como Ellie mente para si mesma e para os outros. Após a votação, a cena muda para uma partida de beisebol infantil, onde Gail e Tommy assistem à distância. Tommy tenta expressar seu desejo de que Ellie siga um bom caminho, enquanto a psicóloga destaca como a protagonista oculta seus verdadeiros sentimentos de ódio.
O Tommy interpretado por Gabriel Luna é, sem dúvidas, um dos aspectos mais debatidos deste episódio. Embora a atuação de Luna seja bastante rica, a descaracterização do personagem pesa negativamente. Para quem jogou The Last of Us Part II, o sentimento é ainda mais forte, já que sabemos que Tommy seria o primeiro a pegar suas armas e viajar até Seattle para enfrentar Abby.
Ellie quer vingança
Com ou sem a aprovação de Jackson, era óbvio que Ellie não desistiria de sua vingança. Ela planeja partir sozinha, mas Dina a impede, argumentando que seria impossível sobreviver sem um plano. Com a ajuda da amiga e, novamente, de Seth, as duas escapam do condado.
Antes de seguir, vale um parêntese sobre Seth: no jogo, ele era o velho do “Preconceituíche”. Aqui, surpreendentemente, ele se torna o “herói da rodada”, ajudando Ellie e Dina a fugir, presenteando Ellie com uma espingarda e ainda recebendo um amistoso aperto de mão. Que reviravolta!
Outra mudança importante em relação ao jogo envolve a relação entre Dina e Jesse. Após montarem acampamento, Dina revela a Ellie que voltou a se envolver com Jesse — o que gera uma reação negativa da protagonista, principalmente em relação a um beijo mal interpretado.
Durante a viagem, somos apresentados de forma bastante esquecível aos Serafitas, uma seita de forte influência religiosa. Vemos uma breve cena em que se comunicam por assobios e discutem seus valores. A WLF os ataca e, por coincidência, Ellie e Dina encontram os corpos pelo caminho — é também nesse momento que temos a primeira indicação de que Dina está grávida de Jesse.
The Last of Us precisa retomar o bom momento
O segundo episódio foi um dos melhores da série até agora. No entanto, o terceiro episódio representou uma queda significativa de qualidade, especialmente pela descaracterização de personagens fundamentais. Gabriel Luna (Tommy) e Isabela Merced (Dina) se destacaram positivamente em suas atuações, enquanto Bella Ramsey (Ellie) entregou uma performance aquém do esperado, sem transmitir toda a carga emocional que o momento exigia.
Claro, nem tudo foi ruim. Bella brilhou na cena em que visita o túmulo de Joel, plantando café no local — uma bela homenagem, já que Joel era fã declarado da bebida. Mas, infelizmente, ficou só nisso. Faltou muito para Bella desta vez.
A esperança agora recai sobre o quarto episódio de The Last of Us, que promete nos apresentar mais sobre Isaac e a WLF. Resta torcer para que a série volte a encontrar seu melhor caminho.