Colunista Daniel Mattos Esportes

A vergonha das eleições na CBF

É com profunda decepção — mas infelizmente, sem surpresa — que acompanhamos mais um capítulo vergonhoso da política que rege...

Foto: Lucas Figueiredo/ CBF
Foto: Lucas Figueiredo/ CBF

É com profunda decepção — mas infelizmente, sem surpresa — que acompanhamos mais um capítulo vergonhoso da política que rege os bastidores do futebol brasileiro. Em uma semana em que os torcedores se animaram com a oficialização de Carlo Ancelotti no comando da Seleção Brasileira, a esperança durou pouco. Voltamos à nossa realidade: uma eleição para a presidência da CBF que é, na prática, um jogo de cartas marcadas.

A candidatura única de Samir Xaud, atual presidente da Federação de Roraima, é o retrato escancarado do vício institucional que contamina o nosso futebol. Com apoio já garantido de 25 federações estaduais e dez clubes, Xaud tem os votos necessários para se consagrar presidente sem precisar disputar uma eleição de verdade. Um pleito sem adversários, costurado nos bastidores com promessas, conchavos e, muito provavelmente, interesses que transcendem os limites do gramado. Brasília observa — e participa.

Mas como isso é possível? Simples: o sistema eleitoral da CBF é feito sob medida para manter o poder concentrado nas mãos das federações estaduais, muitas delas completamente desconectadas da realidade do futebol de alto rendimento. Cada federação tem peso 3 na eleição. Os clubes da Série A, peso 2. Os da Série B, peso 1. Ou seja, quem põe a bola pra rolar, quem gera bilheteria, emprego, mídia, audiência e paixão, tem menos poder que entidades que, em muitos casos, mal organizam competições regulares em seus próprios estados.

É claro que, nesse cenário, qualquer tentativa de oposição se torna uma utopia. Reinaldo Bastos, presidente da FPF, mesmo com o apoio de vários clubes da elite, não conseguiu sequer o número mínimo de federações para formalizar uma chapa. Não por falta de competência ou projeto, mas porque o sistema é desenhado para barrar quem ousa querer mudança.

E então nos perguntamos por que seguimos com um calendário insano, por que a arbitragem continua patinando, por que os clubes seguem sufocados financeiramente e sem voz. A resposta está aí. Os próprios clubes, muitas vezes, se omitem ou se vendem por interesses imediatos. Enquanto isso, a estrutura podre segue intocável.

A eleição da CBF não é apenas uma vergonha. É uma afronta. É o retrato de um sistema que insiste em tratar o futebol brasileiro como feudo de coronéis, como balcão de negócios de bastidores, longe da transparência, da democracia e do compromisso com o que realmente importa: o jogo, o torcedor, o futuro.

O fundo do poço tem porão — e parece que a escavação ainda não terminou.



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