Colunista Edivaldo Magro

Queijo e vinho: uma combinação não tão perfeita, mas inevitável

Queijo e vinho formam uma combinação, senão perfeita, ao menos muito aceitável – e desejável. A verdade dessa convicção tem...

Imagem de Christiane por Pixabay
Imagem de Christiane por Pixabay

Queijo e vinho formam uma combinação, senão perfeita, ao menos muito aceitável – e desejável. A verdade dessa convicção tem sido contestada pela ciência, cujos experimentos não corroboram a tese de que uva e leite façam par. Na prática, tubos de ensaio não reproduzem a verdade de hábitos seculares que colocam juntos, à mesa, o pão, o vinho e o queijo. Talvez essa seja uma das mais longevas coexistências gastronômicas e, se a ciência desencoraja esse convívio, a tradição o reafirma todos os dias.

Mas qual a verdade científica entre a relação pouco amistosa entre o vinho e queijo? Profissionais da área de vinho, como enólogos e sommeliers (e enófilos mais aplicados), reconhecem que o queijo tem o péssimo hábito de mascarar os sabores mais refinados do vinho. Sempre que um naco de queijo é ingerido antes ou depois de um gole de vinho, aromas e sabores da bebida são fortemente prejudicados, inviabilizado uma análise mais técnica.

Pesquisadores da influente Universidade de Davis, na Califórnia, importante região vinícola dos Estados Unidos, reafirmaram o conceito técnico de que vinho e queijo não combinam – pelo menos no aspecto mais genérico. Mas levantaram contradições importantes. Time de degustadores se reuniram para apreciar queijos de diversos estilos e vinhos elaborados com diferentes variedades de uva.

A conclusão foi óbvia: o queijo interfere de forma inevitável na avaliação dos vinhos, tornando impossível identificar qualidades inerentes à uva, impossibilitando, por exemplo, a identificação às cegas das variedades. Na prática, um bom vinho tinto não convive bem com uma tábua de queijo. Vale ressaltar que é exatamente o tinto, os mais encorpados e, portanto, os mais apreciados, que sofrem com o alimento. Pior ainda quando o queijo é do tipo atacado por fungos (branco ou azul).

Mas nem tudo está perdido e alguns queijos salvam.O italianíssimo grana padano é exceção nesse universo de contradição entre a ciência e a tradição. O camembert e o brie igualmente convive bem, por exemplo, com o Beaujolais, cujo método de elaboração (maceração carbônica) praticamente elimina os taninos, o elemento que o queijo costuma mascarar com extrema eficiência – e junto atropela outras qualidades organolépticas da bebida.

Emmental ou gruyére, de sabor mais discreto, se saem melhor com os vinhos tintos e não precisam ser desprezados à mesa quando o vinho é menos ‘personalista’ e pouco robusto em aromas, como um supertoscano, por exemplo.Então, vinho não é exatamente uma má companhia para queijos? De fato, não. Quando se trata de vinhos brancos, essa verdade é ainda mais chinesa.

Além dos espumantes e vinhos fortificados, que combinam muito bem com diversos tipos de queijo, as uvas brancas, como chardonnay e sauvignon blanc, sem madeira (carvalho) acompanham muito bem receitas de meia cura e cremosos. No caso dos fortificados (como vinho do Porto), a sugestão são queijos de veios azuis, como roquefort (feito com leite de ovelha) e o gorgonzola (de leite de vaca). Aliás, os vinhos com maior volume de álcool fazem par perfeito com queijos mais consistentes em sabor.

Curiosidade

A expressão ‘qualidades organolépticas’ se refere às propriedades cor, brilho, odor, textura e aromas das substâncias – e isso vale para o vinho. O termo se origina de organon (organismo) e leptnos (que impressiona).

Diferenças

Roquefort, considerado o mais famoso ‘blue cheese’(queijo azul) do mundo, possui um mofo natural chamado de Penicilium roqueforti. É produzido com leite cruz de ovelha na pequena cidade de Roquefort-sur-Souzon, na França e o nome Roquefort só pode ser ostentado por queijos que tiveram maturação natural nas cavernas do monte Combalou, no entorno do lugarejo onde é produzido.

Gorgonzola é primo do Roquefort, mas com sotaque italiano. A principal diferença em relação ao queijo francês é o leite: o gorgonzola é produzido com leite de vaca. A exemplo do Roquefort, o Gorgonzola é mantido em ambiente controlado para que os fungos se desenvolvam e garantam suas características visuais e aromáticas. É o terceiro queijo mais consumido na Itália (os primeiros são o grana padano e o parmigiano reggiano)

Outras notícias

Foto: Agência Corinthians
Colunista Daniel Mattos

Situação Preocupante: Corinthians Volta à Zona de Rebaixamento após Derrota para o Internacional

A derrota contundente do Corinthians para o Internacional de Porto Alegre no último jogo pelo Campeonato Brasileiro deixou os torcedores...
Imagem gerada por AI
Colunista Edivaldo Magro

Fantasmas existem. Eu vi um. Será?

Acredito em fantasmas. Eles existem. Eu vi um. Melhor: acredito que vi. Foi nos primeiros anos de 1990. Praça da...